Nesta semana, vi algumas pessoas compartilharem uma mensagem que dizia o seguinte:
Eu olhei aquilo e pensei eu não quero ser Hilda.
Eu não quero ficar isolada num sítio. Nem ler filosofia, nem falar com os mortos.
Eu quero viver.
Eu quero ter encontros e desencontros. Quero ouvir as histórias das minhas amigas, quero ver meus filhos experimentarem coisas, quero ficar frustrada e impaciente, quero me surpreender um pouco todos os dias, quero me apaixonar e depois ter meu coração partido.
Quero ter histórias para contar. Quero sentir tudo.
Acho que a Hilda fez as escolhas dela, claro. E não julgo também porque a internet tem dessas de glamourizar certos temas. Tá tudo bem querer ir pro sítio, é só algo que eu não quero mais.
E, olha, que durante muito tempo eu quis ser Hilda. Me imaginava já mais velha vivendo no mato, vestindo camisolas brancas de algodão com muitos bichos e uma horta. Escrevi sobre isso no Segundo 19, meu último livro inclusive, e compartilho aqui um trecho:
“Eu tinha uma visão do futuro: caneca de café na mão esquerda, camisola de algodão branca, cabelos longos com tons de cinza, um sítio, cachorros atrás de mim, uma galocha amarela para caminhar pelo mato alto. Eu, sozinha. Ainda escrevendo. Uma versão mais jovem da Hilda Hilst que eu tinha no meu imaginário. Assim, eu terminaria meus dias. Como ela, em um escritório cheio de livros, papeis por todos os lados, bagunça na mesa. Um computador no lugar da máquina de escrever.
Sozinha.
O que eu não sabia é que a Hilda não estava sozinha. Ela tinha lá seu jovem amante para ajudar no sítio e outras coisas mais. Talvez minha visão de futuro tivesse que passar por uma mudança”.
Me apeguei a essa imagem da escritora em solitude, não necessariamente, solitária. Não precisaria de mais ninguém e esse caminho me parece o mais simples, o mais fácil. Se isolar. Estar só comigo e não com o resto do mundo. E é algo que eu não consigo mais tocar, porque eu quero viver tudo o que o mundo tem pra me oferecer.
Hoje em dia minha visão do futuro mudou bastante. Ainda que eu continue entre livros nela. Eu gosto de me apegar a imagens. Crio elas na minha cabeça o tempo todo. De como vai ser minha casa, minha vida, minha mesa de trabalho, minhas palavras, visualizo e tento trazer pra vida. E isso é bom. Recomendo.
Tenho tido vontade de mudar de rumos, tomar outros barcos, e umas das coisas que eu tenho pensado é sobre o que quero escrever aqui. Quero que esses textos façam jus ao seu título. Então, pra começar passamos a ser nas quintas, que é quando eu consigo escrever. E cada vez mais os textos serão confissões, coisas secretas e escondidas, então aguardem. Vai vir coisas boas por aí.
No mais:
Vi esse artigo lindo hoje no New Yorker sobre o livro que a fotógrafa americana Rosalind Fox Solomon de 94 anos! acaba de lançar. São autorretratos dela mesmo e do seu corpo no processo de envelhecimento. Coisa linda. Vale a pena ver e ler.
Na semana que vem começo um novo curso de escrita! O Abre Caminhos é para quem quer usar a escrita como ferramenta para a vida ou para organizar seu processo criativo. Um curso para quem quer sair da inércia, criar hábito, abrir caminhos.
Quem vamos? Todas as infos aqui
Até a próxima,
Tati