Sobre ser o cara e acender a chama
As histórias que a gente busca para estar no nosso caminho são também as narrativas que queremos escrever no nosso livro da vida.
Lembro muito bem quando vi ele pela primeira vez. O jeito de andar, os cabelos longos, o sorriso esquisito, a camisa xadrez azul, as tatuagens no braço, as pulseiras no braço. Pensei que me apaixonaria em dois segundos por ele, mas na época eu era casada e não me permitia permear por essas águas durante muito tempo. Mas, eu sabia que, de uma forma ou de outra, ele ia estar no meu caminho.
Se eu pudesse definir aquele homem, e eu poderia passar horas aqui listando as características peculiares dele, eu diria uma coisa: ele não passava desapercebido. Ele é aquele cara que você vê de longe. Completamente fora dos padrões normais e pré-concebidos socialmente, mas interessante. Estranho e fora do lugar, mas que se faz pertencer por onde passa. Todo mundo quer estar perto dele, falar com ele. E isso sempre me impressionou. Ele era a própria Patti Smith versão masculina, de alguma forma.
Vamos dar um fastfoward nessa história quando depois que me separei, me apaixonei por aquele homem, beijei aquele homem, quis me colocar inteira dentro dele até que descobri que queria mesmo é ser aquele homem (oi, projeção é você?)
Lembro de uma vez que fomos tomar café da manhã na padaria da esquina, depois de passar uma noite juntos. Ele chegou no lugar super tradicional de óculos escuros, camiseta de rock com a manga cortada, bermuda jeans rasgada e uma ecobag no braço. De novo, ele abria a boca e todo mundo falava com ele como se fossem amigos de velhos tempos, mas não eram. A garçonete deu em cima dele e o caixa pediu o contato do tatuador. Eu observava aquilo com certo transe e a falta de clareza das pessoas apaixonadas, e pensava que aquele era o homem pra mim, o cara diferente que eu sempre sonhei.
Por outro lado, ele não se comprometia e parecia estar sempre em todo lugar quando eu queria estar só com ele. Não deu certo por uma série de razões, mas eu comecei a perceber que eu não só queria estar com ele, eu queria ser aquela pessoa que pertencia a qualquer lugar, que conseguia transitar bem nos espaços. Que tinha um emprego formal, mas ainda fazia arte. Que tinha coisas que eram só dele, que tinha uma casa linda cheia de referências de coisas que ele gostava. Que olhava pra tudo com outro olhar, que via beleza nas pequenas coisas, que tinha discos e livros espalhados pela casa, que não ligava muito pro resto porque ele mantinha uma certa chama acesa por dentro.
Foram anos até aquele amor morrer e eu perceber que tudo o que eu queria nele já tinha em mim. E, ao mesmo tempo, cada vez que eu tentava ficar com ele eu me apagava um pouco.
Eu já tinha tudo em mim e desde em tão mantenho a minha chama acesa, sem me perder, sem desviar. Queria começar esse retorno da newsletter com uma lembrete pra mim, e pra você, que o poder não está no outro, mas aqui e agora.
Bora?
Estou terminando esse texto no meu bar favorito com uma amiga na minha frente e uma cerveja gelada do lado. E é o que temos pra hoje. Prometo colocar indicações da próxima vez, mas eu só queria apertar o send e acender esse fogo de volta, amém
adorei!